quinta-feira, 21 de abril de 2011

Reticências e outros pontos


Isto começa a roçar o estúpido, porque o ridiculo já há muito está ultrapassado.

O país está no abismo, não há dinheiro, a nossa falta de produtividade é sobejamente conhecida lá fora, mas o Governo acha que é oportuno dar tolerancia de ponto. A Sexta-Feira Santa, lá está, já por si implica um fim de semana prolongado, a tutela, por sua vez, acha normal alarga-lo ainda mais, precisamente numa altura em que a troika está no nosso país a estudar os nossos podres.

Que impressionados que eles vão ficar.

Os próprios finlandeses ficarão surpreendidos com o sentido de esforço e responsabilidade do Governo Português.

Diz o ministro da presidência que é absolutamente normal, que é concedido todos os anos. Ridículo sr. ministro. Nesta conjuntura pedia-se-lhe que marcassem pela diferença, positiva.

Passos Coelho, esse grande poeta da banalidade, atira-se ao Governo já depois de concedida a tolerância. Já toda a gente sabia, mas o senhor prefere continuar a chorar sobre o leite derramado a agir em tempo efectivamente útil.

Conhecendo as reivindicações do país, de resto, não me surpreendia que se a tolerância não fosse concedida que os sindicatos não saltassem para frente das câmaras afirmando-se afrontados com tamanho desrespeito pelos trabalhadores - da função pública note-se, porque a grande maioria do sector privado está a sair do emprego por esta hora.

Ainda assim, a função pública é mais uma vez a grande privilegiada. Não trabalha hoje, mas receberá no dia certo. Têm mais garantias que qualquer outro sector (mais estabilidade no emprego, ADSE, regalias de diversas ordens) e são quem mais reclama, quem mais faz greve, quem aparentemente mais se revolta sem se aperceber das afrontas que não enfrenta.

Senhores da troika, não tenham contemplações. O país não tem emenda, o exemplo não vem de cima. Quando o chicote cair, que faça ferida e que sare lentamente, não poderemos mais viver com a síndrome de memória curta, há que mudar RADICALMENTE de uma vez por todas.

Já os romanos diziam que aqui neste canto havia um país que nem se governava nem se deixava governar!

5 comentários:

  1. Concordo inteiramente que isto foi uma medida eleitoralista do governo e que mais uma vez Sócrates colocou a sua popularidade e determinação de chegar ao poder em frente dos interesses do País...

    tal como fez nas ultimas eleições quando deliberadamente ocultou a real situação do país e aumentou ordenados e baixou impostos tendo um défice de 9% quando era previsto 3% antes das eleições...

    No entanto discordo contigo na parte de Passos Coelho, ele falou quando teria de falar, se falasse antes do governo anunciar a dita tolerância ia passar por otário quando o governo negasse e o nosso PM se fizesse de vitima mais uma vez...

    Quanto à função publica, discordo totalmente que tenham muitas mais regalias em relação aos privados, depende dos privados e depende dos funcionários públicos.

    Já não existe trabalhos para a vida na função publica, acabaram com os quadros e meteram toda a gente com contractos sem termo, que é o que existe no privado.

    ADSE é dos seguros mais caros que existe no mercado, se quiseres posso mostrar-te quanto me tiram todos os meses e posso-te mostrar que em qualquer seguradora, com os mesmos benefícios ou melhores consigo um preço bem menor que o que desconto para a ADSE.

    Nem falo dos ordenados (que têm vindo a perder sucessivamente poder de compra nos últimos 15 anos, não reflectem de todo o teu esforço nem a tua dedicação (para o bem e para o mal) e nem que tires 10 diplomas e demonstres dedicação total nas tuas funções isso será recompensado pela máquina do estado que olha para ti como se fosses um número. No privado não é bem assim...

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  2. Caro Gordo, a tolerância de ponto foi abordada no parlamento, quase como um pró-forma, devido ao seu caracter "tradicional", há cerca de quinze dias. Saiu no Público (este li eu) em tempo suficientemente util para que os interessados pudessem marcar as mini-férias, portanto, reafirmo, Passos Coelho teve apenas mais um dos seus discursos vazios e eleitoralistas.

    O que me custa, porque vejo o PS de Socrates a aproximar-se nas sondagens, claramente não por mérito próprio mas antes por demérito das demagogias do PSD.

    Podia enumerar-te um número avassalador de vantagens dos funcionários públicos, antes vou apenas referir-me a um pequeno particularismo: Ganha-se mais no privado? Sim, os cargos directivos disso são exemplo. Mas no privado trabalha-se por resultados, porque o privado tem que produzir lucros.

    Se há uma gestão danosa, a empresa cai e atira mais uns quantos para o desemprego. Milhares de empresas faliram, mas a máquina estatal não pode falir.

    Queres comprar casa e necessitas contrair empréstimo. Mostras a tua declaração de rendimentos e eu o meu recibo verde. Qual dá mais garantias?

    Há recibos verdes na função pública? Qual a percentagem de salarios iguais ao salario minimo nacional na função pública? Quantos trabalhadores estão à sorna nas instituições públicas, quantos pedem licença ao pé direito para mover o esquerdo? Obviamente não te revejo neste cenário, mas sabes que existe!

    Não sou funcionário público, recebo pelo que efectivamente trabalho. É precário, é sim senhor, gostava de ter mais segurança, mas se de facto se pagasse pela productividade efectiva, este pais mudaria drasticamente. Era obrigado a isso.

    Temos dos índices de produtividade mais baixos da Europa, vivemos de subsídios por tudo e por nada, estamos em crise e os hotéis estão quase todos lotados! Mas estamos a brincar com isto?!?! Onde é que tá a crise? A CRISE ESTÁ NOS VALORES!!!

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  3. Bem, quanto à máquina estatal falir... infelizmente já esteve mais longe e vamos ver se daqui a 5 anos vamos conseguir aguentar-nos sozinhos... senão meu amigo, Portugal irá entrar em falência e os funcionários públicos são os primeiros a sofrer.

    E não tens outro estado ali ao lado terás que voltar ao privado e como a tua clara xenofobia em relação ao trabalho realizado pelos funcionários públicos é comum a grande parte dos que trabalham no privado acredito que não será fácil para muitos.

    Quanto aos recibos verdes e ordenados mínimos, deves estar muito enganado, o estado é quem tem mais assalariados precários e de ordenado mínimo. Sugiro que te informes bem sobre isso.

    Já nem falo dos professores que têm contractos anuais durante décadas sem nunca chegarem a integrar as carreiras.

    Em relação ao trabalho dos funcionários públicos, não podes generalizar, mas grande parte faz o seu papel tendo em conta as condições.

    Eu estou a estudar e a tentar evoluir o meu conhecimento, sabes o que vou lucrar com isso na minha profissão?! por ser funcionário publico, absolutamente nada, mesmo que seja reconhecido pela minha direcção que agora eu tenho mais qualificações.

    Existem muitas pessoas que entraram para função pública sem qualificações (principalmente na legislatura do Eng. Guterres) e acomodadas é certo, mas há muitas que lutam todos os dias para que de alguma forma tu tenhas saúde, segurança, educação, transportes, força militar, serviços e justiça.

    Há muita gente que se agarrou ao lugar e usa a constituição como defesa, bastando chegar a horas e saindo a horas, sem qualquer hipótese de o estado as demitir pelo serviço mal prestado pois é algo difícil de provar em tribunal.

    Bem isso é outra conversa, mas há de tudo um pouco em todo o lado, mas tendo em conta que a produtividade é medida naquilo que produzimos e tendo em conta que a Função Pública na sua generalidade não é industria, logo o problema está no sector privado.

    Mas concordo com as avaliações e que as pessoas fossem remuneradas por objectivos atingidos. Ter um ordenado base que melhoraria em conformidade de determinados objectivos atingidos.

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  4. Amigo, não é xenofobia :) apenas sou contra aqueles (e não são poucos) que quase dormem no serviço, que nao produzem e se arrastam! Esses funcionários públicos é que mancham a classe!

    Mantenho que o funcionalismo público continua a ser quem mais reclama. Se têm razão? Bem, alguma terão, mas há por este país muito boa gente que não se possa dar a esse privilégio de Abril, o direito à greve, por medo de represálias.

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  5. Portanto, tu reclamas mas não é por eles terem o direito a fazer greve, é por alguns trabalhadores do privado não o poderem fazer?!

    hmmmmm

    Já agora, que tal cortarmos todos os direitos dos funcionários públicos porque há escravos na Somália?

    Já te disse que a nossa falta de produtividade prende-se drasticamente no privado.

    Podes dizer que temos uma justiça ineficaz, mas se calhar a culpa não é inteiramente dos funcionários judiciais, juízes ou advogados. Se calhar é de quem faz as leis.

    Podes dizer que temos filas de espera enormes nos hospitais, mas se calhar não podes culpar os enfermeiros, auxiliares ou mesmo alguns médicos. Mas talvez a própria falta de pessoal e equipamento.

    Podes até dizer que os gajos das finanças demoram 3h a atender-te, mas quando chegas tens uma fila de 1klm porque chegas-te no último dia como 90% dos Portugueses.

    Queres que te diga uma coisa, eu sei de casos absurdos de pessoal que passa o dia no facebook ou farmvilles e não faz nada daquilo que lhe mandam, também já falei de algumas razões que podem justificar isso. No entanto, acho que são a minoria e como nem todos os Benfiquistas são burros, pobres e bêbedos, ou os Sportinguistas snobs e ricos, também não podemos dizer que os Funcionários Públicos são todos mandriões e bem pagos.

    Existe muita precariedade na Função Pública, bem mais do que sequer imaginas, principalmente a malta que entrou à pouco tempo, podem passar a vida em contractos de 1 ano, mesmo sendo totalmente ilegal.

    Dou-te o exemplo dos professores que hoje estão aqui e amanhã com uma mudança de currículo podem estar a 200klm de casa, ou pior, com horário incompleto ou mesmo sem emprego.

    Ou a carrada de enfermeiros que posso dizer-te que nem sequer têm contracto por milhares de centros de saúde em todo o país e continuam a trabalhar com a esperança de poderem ter um. Que podem ser despedidos de um dia para o outro sem indemnização ou mesmo direito a subsidio de desemprego, pura e simplesmente porque não têm papel nenhum assinado.

    Eu sim posso dar-te aqui uma cartilha de casos de insegurança.

    Sinceramente, o povo Tuga é que está habituado à fantasia do trabalho para a vida. Isso foi algo inventado pelos nossos pais depois do 25 de Abril que habituou-nos muito mal.

    O que mais me irritou à uns meses atrás, foi uma amiga que me estava a falar do irmão que estava desempregado à um ano e tal, "o rapaz não arranja nada na área dele". Mas que porra, o gajo era trolha, apareceu-lhe uma oportunidade de ser motorista de uma carrinha lá da Junta de Freguesia e ele não quis porque não era na área dele...

    HEYYYY acordem para a vida, eu se deixar de ser professor vou para programador, se não der vou para redes, se não der vou para electricista, se não der vou para um supermercado, se não der vou trabalhar para o campo. Ou crio o meu próprio trabalho, alguma coisa faço, estar 1 ano sem fazer nenhum e ainda tinham pena do rapaz?!

    Eu já tive em vários pontos de Portugal a trabalhar é a estabilidade de ser funcionário público.

    Mas se queres podemos falar de funcionários públicos que não fazem ou não faziam nenhum, podemos começar por mim, o meu irmão e a minha mãe...

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