terça-feira, 2 de agosto de 2011

O país dos aumentos


O preço dos transportes em Portugal aumentou (novamente) esta semana. Os portugueses reclamam, mas já não estranham. Não estranham porque estão por demasia habituados a que todos os problemas financeiros do país sejam resolvidos com a mão no bolso de terceiros.

Pessoalmente, a medida não me afecta, porque neste canto do país os transportes colectivos não nos servem como gostaríamos e a qualidade/conforto do serviço que pagamos está a anos luz do desejável. No entanto, maregas e outros que tal que se preparem, sobretudo no regresso ao trabalho/inicio de aulas, que vos saltarão novamente à carteira.

Novamente, os salários ficam na cepa torta.

Certo, o novo Governo entrou em funções há cerca de um mês, e se por um lado é ainda precoce vestir o barrete de carrasco e puxar do machado, por outro a questão remete-nos para a problemática do ovo e da galinha - qual veio primeiro?

O sr. Ministro das Finanças diz e bem que não há crescimento sem investimento. Que devemos comprar o que é nacional, pois o investimento no mercado interno é essencial para o desenvolvimento económico do rectângulo, mas não explica como podemos optar pela compra do que é nacional (e infelizmente tendencialmente mais caro) se cada medida tomada suga cada vez mais o poder de compra do Zé Povinho. Como comprar sem poder de compra? Recorremos ao crédito? O mesmo que continuamente hipoteca a nossa economia?

O Governo defende-se. Vai ter em conta a situação dos portugueses com maiores dificuldades. Aqui é preciso esclarecer o que é que o Governo entende por "portugueses com maiores dificuldades". É que, segundo a edição do "I" da última Sexta-Feira, 1 em cada 2 portugueses ou está desempregado ou em situação de emprego precária. Portanto 50% do País conta os trocos continuamente e teme pelo futuro. É a estes portugueses que o Governo se refere?

O Presidente da República referiu por diversas vezes que as exportações nacionais têm que amplamente impulsionadas. De acordo, é uma medida a saudar, é um dos caminhos que nos poderão conduzir ao equilíbrio económico. Mas que medidas de auxílio estão previstas para empresas que não conseguem ainda atingir o nível da exportação, mas que estão relativamente estáveis no mercado nacional? Ficam à deriva? Porque até agora NENHUMA medida foi tomada nesse sentido, e essas empresas comportam um numero considerável de empregos.

Mais, a liberalização das tarifas energéticas. Há por aí alguém que acredite que isso será benéfico para o consumidor final? Ou será necessário relembrar os efeitos da liberalização dos preços dos combustíveis no bolso dos portugueses?

2 comentários:

  1. O preço dos transportes é impossivel de não acontecerem...

    A divida das empresas de transportes aumenta anualmente e está a níveis incomportáveis

    Temos de pensar que o dito Estado Social só é sustentável enquanto o mesmo for auto-sustentável, ou seja, quando as receitas chegarem para as despesas...

    Tapar os olhos como temos feito nestes ultimos 15 anos à espera que de repente tudo se auto-resolvesse não é solução... nesse ponto concordo com o governo.... e o plano da Troika....

    Quanto ao consumo interno estar cada vez mais condicionado tendo em conta a perca de poder de compra... o ajustamento do nosso poder de compra com a realidade da nossa economia era inevitável...

    No entanto concordo que o governo deveria tentar fazer com que não haja tanta desigualdade entre os extremos e tentasse criar mecanismos que compense a balança. Isto tendo em conta que 25 pessoas neste país detêm cerca de 10% do nosso PIB é uma coisa que me perturba um bocadinho...

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  2. Os transportes podem até aumentar, mas se o que se pretende é atrair novos cidadãos para os transportes públicos não me parece que a melhor forma seja aumentar os preços para uma qualidade que não se altera e um serviço que peca por demasia.

    Vamos certamente fazer um grande esforço para cumprir os desígnios da troika, mas que os portugueses consigam ter alguma dignidade e não sejam apenas tratados como números.

    Assusta ver tanto dinheiro concentrado em tão pouca gente, mas felizmente também são responsáveis por inúmeros postos de trabalho e os grandes responsáveis pelas tão visadas exportações.

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