quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Paris

As pessoas olham para mim na rua, não sei se por causa do meu Pai ser um rico e famoso Conde, se pelo ópio que deambula no meu corpo.
Chego um tanto cambaleante, sento-me na mesa do lado.
O empregado faz-me uma vénia, trata-me pelo nome não se esquecendo do meu título, pergunta-me se bebo o costume.
Respondo que sim sem trocar qualquer olhar.
Acendo um cigarro, o meu aspecto é o mais desalinhado possível, tiro do bolso um pedaço de papel amachucado.
Da minha orelha sai um sujo lápis de carvão, chega o meu vinho.
Olho para os desconhecidos que comigo partilham aquele café de luxo no centro de Paris.
Sorrio para eles, imagino que os meus dentes negros não façam sucesso, procuro escrever umas palavras, não me sai nada…
Dói-me a cabeça, penso na falta de coragem das pessoas, penso como se deixam aprisionar, como acabam por viver vidas que nunca quiseram. Eu não sou melhor.
No fundo de mim mesmo sou o maior crítico, tenho uma voz dentro do meu peito que me devora, felizmente posso adormece-la com algumas garrafas, mas jamais a posso matar…
Ainda bem.
Mais uma taça de vinho.
Júlia entra e sem cerimónias senta-se na minha mesa, cruza as pernas, que belas pernas, que bonito decote, é uma bela mulher!
È minha irmã.
Sorrio levemente, culpo o álcool deste meu pensamento indecente, amo-a, mas não dessa maneira.
Outros animais que não eu um dia a farão corar. Prefiro não pensar nisso!
Sorrio levemente outra vez, penso que até um porco como eu que a única coisa que sabe fazer é desrespeitar o seu corpo procura proteger os que mais ama.
Preparava-se a minha mana para me dar o chá do costume, quando chega uma bela donzela impecavelmente vestida. Acenou para a mesa!
Fui apresentado, percebi claramente que o meu cheiro a repugnava. È normal.
Uma bela donzela não deve gostar do cheiro reles de putas, mas que posso fazer se é sempre em casas de pecado que durmo as noites...
Claro que a menina de seu nome Margarida demorou a perceber que tal traste imundo era o irmão mais velho de Júlia.
Resolvi dizer-lhe.
- Menina Margarida jamais vi nesta taberna, que se diz por fina, tão bela mulher.
- Não devia ter dito “bela mulher” mas sim bela menina. Respondeu ela.
- Jamais poderia ter dito bela menina quando para mim a Margarida é uma bela criação que adoraria provar ainda esta tarde.
Eloquentemente sou brindado com um forte estalo, com a ajuda do tinto espalho-me ao comprido no chão.
Nasceu em mim o amor…
Elegantemente quanto é permitido a alguém que se encontra totalmente alcolizado levanto-me, agradeço a prova de amor e beijo-lhe a mão.
Saio porta fora, já nos paralelos sujos simulo uma pequena dança comigo próprio, não valho mais que as pedras da calçada, não estou mais limpo que elas, no entanto invejo-as.
Invejo a sua sabedoria, invejo tudo o que elas já viram, se ao menos me respondessem…

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